A nova fase da disputa entre Israel e Irã: hegemonia nuclear e guerra preventiva
O ataque israelense ao Irã marca uma inflexão na disputa geopolítica pelo controle do Oriente Médio, revelando vulnerabilidades estratégicas iranianas e reposicionando Netanyahu no cenário regional
Nas primeiras horas da manhã desta sexta-feira, 13 de junho, Israel realizou diversos ataques em território iraniano. Os alvos incluíam centros nucleares e instalações ligadas ao programa de mísseis balísticos do Irã. Israel também bombardeou zonas residenciais em Teerã e em outras cidades onde viviam cientistas nucleares e militares de alta patente. Aproximadamente 70 pessoas foram mortas, entre elas vinte militares e seus familiares.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que se tratava de um “ataque preventivo” destinado a impedir o desenvolvimento de armas nucleares pelo Irã. Para a operação, Israel empregou mais de cem caças e drones explosivos previamente instalados em território iraniano, os quais conseguiram sabotar o sistema de defesa antiaérea do país. Para além do impacto nas capacidades militares iranianas, o ataque parece visar uma mudança de regime no país, ao eliminar importantes lideranças militares e políticas iranianas.
Instalações nucleares subterrâneas e localizadas dentro de montanhas foram atingidas, mas especialistas avaliam que a destruição total desses alvos é improvável nesta primeira ofensiva, devido à espessa proteção de concreto reforçado. Ainda assim, Netanyahu afirmou que os ataques continuarão “pelo tempo necessário” para impedir o Irã de desenvolver armamento atômico.
Embora Netanyahu tenha agradecido ao ex-presidente dos EUA, Donald Trump, pelo apoio histórico a Israel, o atual secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou que a operação foi conduzida exclusivamente por Israel. Está mantida, para o domingo, 15 de junho, em Omã, uma rodada de negociações entre EUA e Irã, cujo objetivo é um novo acordo que suspenda sanções estadunidenses em troca de fiscalização internacional sobre o programa nuclear iraniano. Em declaração após os ataques, Trump alertou o Irã a “fechar o acordo antes que seja tarde”.
Israel busca manter-se como a única potência nuclear do Oriente Médio
No passado, Israel já realizou ataques semelhantes: bombardeou as instalações nucleares do Iraque em 1981 e da Síria em 2007. Em 2003, os Estados Unidos, com apoio israelense, usaram a mesma justificativa de “ataque preventivo” para invadir o Iraque, sob a falsa alegação de impedir o desenvolvimento de “armas de destruição em massa”.
Israel é, até hoje, o único país do Oriente Médio com armamento nuclear — estima-se que possua cerca de 500 ogivas, fruto de cooperação com a França nos anos 1950. Desde então, o país atua sistematicamente para impedir que qualquer rival regional adquira capacidade de dissuasão atômica, o que dificultaria a manutenção da hegemonia ocidental na região.
O programa nuclear iraniano teve início nos anos 1950 com apoio dos EUA, após o golpe de 1953 que derrubou o primeiro-ministro nacionalista Mohammed Mossadegh e reinstaurou o xá Reza Pahlavi, aliado do Ocidente. Após a Revolução Islâmica de 1979, o Irã retomou o desenvolvimento do programa com novos propósitos.
Nos anos 2000, Israel e os EUA conduziram diversas operações secretas contra o programa iraniano, incluindo assassinatos de cientistas e ataques cibernéticos, como o vírus Stuxnet, que comprometeu centrífugas de enriquecimento de urânio. Israel tentou sabotar o acordo nuclear firmado por Barack Obama em 2015, e Donald Trump, após eleger-se, atendeu às pressões do lobby israelense e retirou os EUA do acordo em 2017. Como consequência, o Irã retomou o processo de enriquecimento de urânio com vistas à capacidade de produzir armamento nuclear.
Apesar da agressividade de sua postura, segundo o Financial Times, Israel não teria atualmente capacidade militar de destruir por completo o programa iraniano, especialmente após o desgaste de seu arsenal com os ataques recentes em Gaza, Líbano, Síria e Iêmen. O país dispõe de um número limitado de bombas anti-bunker, como as utilizadas no assassinato do líder do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, em setembro de 2024. Por isso, dependeria de apoio militar dos Estados Unidos para levar adiante seu plano — auxílio que, segundo fontes, Israel estaria buscando garantir nos bastidores.
O ataque desta sexta-feira ocorreu poucos dias após autoridades iranianas declararem que haviam obtido informações sigilosas sobre o programa nuclear israelense e sua rede de espionagem no Oriente Médio. Apesar de a possibilidade de um ataque israelense ser conhecida desde o início da semana, a inteligência iraniana falhou em antecipá-lo e em garantir a segurança de figuras-chave do país. Ainda que os danos exatos permaneçam incertos, o ataque revelou vulnerabilidades significativas.
O chefe de Estado do Irã, aiatolá Ali Hosseini Khamenei, prometeu uma resposta severa. Como o ataque israelense violou o direito internacional ao atingir áreas residenciais, os iranianos podem retaliar contra zonas civis em Israel. Contudo, Israel possui um sistema de defesa antiaérea, o Iron Dome, quase impecável.
Nesta mesma semana, Netanyahu sobreviveu a uma tentativa de destituição articulada pela oposição. As próximas horas e dias serão decisivos para o futuro da região, mas é inegável que Netanyahu sai fortalecido deste episódio, enquanto Khamenei se encontra, ao menos momentaneamente, enfraquecido nessa disputa de décadas que agora entra em sua fase militar.
Será importante acompanhar como as sociedades iraniana e israelenses irão responder a esse conflito. Ser irão apoiar os seus governantes, ou se verão este momento como oportunidade de promover uma mudança de regime.
É surpreendente um presidente norte-americano fazer cena, de uma agencia interncional de energia atômica estar no sript e no time do jogo. Esse teatro tem seu ingresso pago com sangue inocente. O mundo está a beira do abismo, não em termos de guerra mas em termos de governancia e de humanidade.